quinta-feira, 19 de junho de 2008

O DESASTRE DE SIMONE NA NOVELA SELVA DE PEDRA (1972).


 
O carro sai da estrada, rola no barranco e explode. Sirenas, polícia, rodoviária gente se oferecendo para ajudar. É a cena mais ousada e difícil jamais filmada na televisão brasileira.

Quinta feira 10 horas da manhã. No Km 35, da estrada Rio-Petrópolis, tudo é tranqüilo. De repente , uma Kombi da Rede Globo de televisão, estaciona, seguida por um cortejo de ônibus e carros de externa. Depois chega uma ambulância da Santa Casa de Misericórdia, uma equipe de médicos, um carro de polícia rodoviária, O Dodge Dart amarelo de Regina Duarte e um caminhão transportando um Volks 65, de cor azul-celeste. Em pouco tempo, o local se enche de curiosos e perguntas e perguntas, enquanto artistas e técnicos jogam bola, descansam sobre a grama ou tomam cafezinhos do Belvederi, à espera do início da gravação de mais um capitulo da novela “Selva de Pedra”: o desastre com o fusca de Simone, que mobilizou toda a equipe de produção. É a primeira vez que a televisão brasileira faz um carro explodir.

Marcada para a parte da manhã, os preparativos estenderam a gravação até o fim da tarde, quando a produção mandam que todos desçam mais de 200 metros na estrada, junto a um barranco de dois metros de altura. Duas câmaras são colocadas debaixo do barranco, montadas em dois caminhões. Vereza, que vai gravar uma cena, dirigi-se para um dos ônibus afim de trocar de roupa e o resto da equipe se senta no meio-fio. Enquanto isso os técnicos trabalham concentradamente, sob a direção de Walter Avancini.

A 200 metros dali, a polícia rodoviária impede o trânsito para que se inicie a primeira tomada: a queda do fusca verde, onde estão Simone (Regina Duarte) e Lena, sua nova empregada (a atriz Tâmara Taxman que pela primeira vez trabalha na Globo).

PREPARANDO A MORTE – O fusca é colocado sobre tábuas, na direção do barranco. Tudo pronto; câmeras ligadas, caminhões de externas funcionando, fotógrafos de olhos fixos nas maquinas e olhares assustados das cem pessoas que cercam o local. “Vamos começar a gravação”, diz Avancini.

O carro de socorro empurra o Volks, mais ele só vai até a metade do barranco. A cena deverá ser repetida. O reboque se prepara para trazê-lo novamente para a estrada. Gonçalves e Celinho- assistentes de produção- vão até o meio do barranco e ajudam amarrá-lo para a subida. Tudo deve ser perfeito para que a gravação não seja transferida para outro dia. As pessoas ficam em silên cio preocupadas com os dois assistentes que operam junto do carro, no barranco. Depois com muito esforço, parte do trabalho é realizada. Já quase em cima do morro, um dos pneus sai do lugar. Vereza e Avancini tentam colocá-lo novamente no sobre as tábuas. Segurando um cano de ferro, molhado de suor, Vereza se esforça para apoiá-lo. Quando tudo já está quase pronto, uma das tábuas se quebra e é preciso consertar a posição do automóvel. Durante todo esse tempo, Avancini avisa às pessoas que se afastem do local. Finalmente o carro é colocado sobre as tábuas. Todo mundo aplaude e respira de alívio.

NA DIREÇÃO DO ABISMO – As câmeras são ligadas de novo, os caminhões voltam aos seu postos e está tudo pronto para a repetição da cena. “vamos começar a gravar”, grita Avancini. O carro é empurrado- não pelo socorro, que falhou da primeira vez, mas por Salvador, motorista de um dos caminhões da Globo. Não podia sair melhor: O fusca sai da estrada, dá várias cambalhotas e cai no barranco, com uma das portas abertas.

- O que aconteceu? Precisam de ajuda? A essa altura, há pelo menos umas duzentas pessoas no local, embora a policia federal já tenha liberado o transito para o intervalo antes da gravação da segunda cena: a explosão.

Francisco Cuoco, que assistiu à primeira mostra-se calmo, apesar da expectativa. Vereza Sorri, satisfeito com o sucesso de seu trabalho e Avancini já se prepara para o resto. As perguntas continuam insistentes:
- Precisam de transportes para as vitimas? Estou com o carro aqui...
Na confusão a fantasia se mistura com a realidade e, tomado de nervosismo, Toninho, um dos responsáveis pelo guarda-roupa, acaba se ferindo, quando vai apanha o paletó de Vereza dentro do ônibus: fica pendurado na janela pelo anel e machuca a mão direita.


FUMAÇAS E PERGUNTAS – Os preparativos recomeçam. Dois homens testam os extintores que deveram ser utilizados para apagar o fogo depois da explosão. A gasolina é espalhada sobre o carro. Avancini entra no caminhão da externa, senta na mesa de corte e com dois fones de intercomunicação no ouvido, chama todos os carros para a gravação:

- Alô, alô carro 1. Atenção

- Alô, alô carro 2. Atenção

O fusca azul-celeste entra em chamas, que vão crescendo, ficando cada vez maiores, até chegar à explosão, num grande estrondo. O fogo continua, sobe, levando a fumaça até quase ás nuvens. No carro de externa , as cenas se reproduzem: visto pelo vídeo , o incêdio é perfeito. Lá fora, as pessoas continuam se agitando, atraídas pelo movimento.

De repente, aparece um táxi. Freia bruscamente e dele salta vereza, correndo.
Gritando palavras assustadas, vai até o meio do barranco e volta-se para o ator que contracena com ele, o motorista de táxi:
- Que é isso, cara? (Corte).

Uma hora depois, o local estava novamente tranqüilo. Simone morreu? Foi acidente ou suicídio? As perguntas ficaram na fumaça e só serão respondidas na próxima semana, quando o capítulo for para o ar.

Um comentário:

gisele disse...

Nossa!Deu muito trabalho para fazer uma cena dessa! Eu tinha cinco anos quando assisti acena, comecei a gritar e a chorar e pulei para o colo da minha mãe e não quis mais assistir a novela. Pensei que a Regina Duarte meu ídolo de infância tinha morrido no acidente. Ainda não sabia o que era ficção e realidade. Só voltei assistir a novela quando a Regina voltou como Rosana Reis.
O curioso é que 32 anos depois, eu perdi um amigo muito querido na BR 101 em Itaboraí. Ele atropelou um cavalo, o carro capotou na estrada e caiu numa ribanceira e explodiu matando ele na hora.